quarta-feira, 7 de abril de 2010



Se houvesse a experiência
liberta e incondicional
de voltar às sensações
meu peito voaria a dimensões
que num momento a infância
me brindou e eu nada sabia

Uns desenhos, gravuras
pretas e brancas e linhas
azuis de cadernos novos,
as músicas que me elevavam
e eu não entendia nada daquilo
de estar noturno à luz da tarde

Aquelas sensações flambadas
numa pequena alma
que parecia poupada
- nunca fui, nunca serei
poupado de lembrar o que
senti, o que temi, o que perdi

Deixei pelos anos as notas
daquela vida que se projetava
- seria outra a que viria
e mais outra e depois outra
e então aqui estou, resultante
e perplexa metamorfose

Mas sobraram fragmentos
e umas memórias fincadas
que têm cheiro e textura
e talvez agora eu as entenda,
aquelas sensações passadas
que o rumo da vida me tirou

Talvez fossem lições
que eu, tolo, não aprendi
ou os rabiscares fugidios
que a paleta de cores da vida
não pode mais compôr...
não sei o que eram

Só entendo que hoje
seriam como um céu aberto
vasto de si, onde se perdem
todos os casos e pesos da vida
que eu mesmo criei
por esquecer de sentir

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