quinta-feira, 12 de janeiro de 2012



A lira de raios do sol
desprende de ti uma chance:
em um momento poderei te ver.
De outra sorte, temerária,
ficarás à sombra cândida
dos segredos em que te banhas,
entronizada, distante
enquanto recolho tuas gotas.

Porque tens borbulhas
marejando a fronte alva,
surgem temas de prata e anis
circundando qual fitas reluzentes
- e são tão lentas e mornas
a formar esse anteparo,
hoje um riacho alhures,
refletindo a lua de teus olhos.

É o fastio de banhar os pés,
de sentir o aroma da brisa,
ferver meu sangue nessas águas
opulentas, abissais e medonhas,
enquanto à margem do tempo
brilha o desvario do sol:
de raios lançados, devoto,
palheta de luzes sobre ti.

Com teu manso destino moroso
e já túrgida de tantas manhãs,
que mais ousarei te dar,
acólito ordinário de tuas águas?
Vai uma sombra minha hesitante,
uma espera infinita a remar,
ao sono de uma lenta cascata 
que enovela-nos à infinitude.

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