terça-feira, 27 de abril de 2010




É difícil falar do dia
pois à morte do sol
já sou claro e profano,
enluarada melancolia

que de mim brota como
as cinzas de um fogareiro
que acalentou o dia inteiro
o tapete, a manta, solidão

esperanças pela noite
que já tarda, esperada
criatura que toma formas
no silêncio que nos dá

e então é dessa morte
que é broto de novo dia
que nasce da melancolia
um parco amanhecer

vestido de véu molhado,
de prata tombada celeste -
pouco vale se um sol nasce
e termina esse meditar

que é de céu azul e sol
o meu esquecer das coisas
para farejar controvérsias
e desfrutar, estado esquecido

de toda essa vida desperta,
dispersa, equação ilógica
que relaciona o que faço
com coisas que não penso

e me apresento ao mal feito
e tropeço, todos olham
- essa vida do dia, juiza
é comando e comandar

razão iluminada ao sol
percalços, limites, rumores
são tantas e famigeradas
as porções dessa desordem

que seu efeito é esquecimento
calada reflexão crepuscular
no desfazer das horas
amanhecer dos tempos

de emergir o que é fato,
romper com silêncio o ruído
para fazer das cinzas do dia
a morna sabedoria da noite

e vem confessa, límpida
rotunda que fecha as luzes
e somente seu fogo reina
a inspirar as fagulhas da aurora.

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