terça-feira, 9 de fevereiro de 2010



Interregno

Pois naquela véspera de poesia, eu aguardava ansioso o inverno. Muitos dias frios haviam passado pelo nosso verão, ousado de chuvas e neblinas. Mas nunca aquela gravidade hibernal que nos recolhe. Aquele peso sem pesar, medo sem temor, rotura sem fenda. Somente a lembrança do inverno me bastava para ruborizar as pontas dos dedos, ainda que não envolvesse alguma xícara morna. Quantas voltas precisariam ser dadas pelos ponteiros para que seu destino fosse morrer na geada? Passar de uma a outra estação é tão-só esmorecer. A cerimônia da vida aguarda pelo inverno. Até que possa cortejá-lo, quanto de tristeza e ócio...Saudade é o cheiro da lenha queimada, o abraço espinicado da manta, a longa poesia da manhã.

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