quinta-feira, 17 de abril de 2008




Preciso de trinta e seis horas
entre uma e outra temerosidade.
Preciso de um silêncio entre elas,
que seja morno, macio, mudo
e tramado de outros enganos.


Preciso da sina incapaz do tolo
e das receitas sujas de café.
Preciso de espuma, de orvalho,
de encosto e de ar quente.
Preciso de uma noite de chuva.

Sou incapaz de dizer que preciso,
mais do que tudo e mais do que eu,
da tua presença imediata em mim.
Minha pauta é tua ausência
e tua beleza é meu assunto sério.

Preciso da esfera revolta que
são meus dias de sim e de não.
Preciso te falar de tudo que há
em minha inconstante viagem de
vôos rasos pueris: tu e eu.

Que há de triste em te perder?
A melancolia é o prazer velado
de nossos próprios desagrados.
Do teu choro frio brotam luzes
e teu sorriso todo é uma tristeza.

Preciso de trinta e seis horas
afogado em teus seios matinais:
congelo a aurora e a lua cinza.
Preciso te pedir sempre teu leito
e teu calor inerte de amêndoa.

Preciso eternamente de ti e, assim,
te solicito em minha sombra muda.
Vem, que eu me aqueço em teu silêncio;
vem, que teus seios bradam por mim:
este teu amor é estigma do acaso.

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