Sobre ti nada tenho a dizer
apenas há esta noite, seca
sem nuvens, nenhuma borrasca
apenas calor da terra e movimento
- um sopro estridulante e perene
todas as folhas de todos os caules
sobrenadantes à minha vista opaca
pairando convulsas onde o hábito
ou de certo, malgrado estas linhas,
a inércia insulou-me
estou cingido de castanhas e trigo
em minha mesa há indícios de cera
não há nada que devas saber
porquanto não és objeto em assunto
e de ti nada mais saberei
parto o grafite novamente
rasuro frases perfeitas e temerosas
- é tudo verdade, é tudo verdade!
da campânula uma língua de fogo
gargalha e me conduz
há uma maldição no ventre do tempo
são as horas, são os anseios
são gloriosas palavras nefastas
ninguém as quer para si
mas são minhas, são suas
são as filhas de nosso tempo
as folhas que estão a pairar
- mas nada vejo lá fora
é tudo fosco nesta dança do enfado
não há chuva para benzer a verdade
então retorno os olhos do vento
e despenco nesta folha abissal
passo dias sem erguer-me dos versos;
a verdade escondeu-se de mim,
e dela não tenho nada a dizer.
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