domingo, 4 de março de 2012



A um olmo seco


No velho olmo, fendido pelo raio
e já metade apodrecido,
com as chuvas de abril e o sol de maio
algumas folhas verdes lhe hão saído.

Oh olmo centenário na colina
que lambe o Duero! Um musgo amarelento
mancha-lhe a casca esbranquiçada
no tronco carcomido e poeirento.

Não será, qual os cantantes álamos
que guardam o caminho e a ribeira,
habitado por rouxinóis pardos.

Exército de formigas em fileiras
vai nela trepando, e nas suas entranhas
urdem as cinzas teias as aranhas.

Antes que te derrube, olmo de Duero
com o machado o lenhador, e o carpinteiro
te converta em badalo de campainha,
arreio de carroça ou jugo de carreta:
antes que rubro na lareira, à manhãzinha,
ardas em alguma palhota
no meio do caminho;
antes que te espedace um torvelinho
e trinque o bafo das serras brancas:
antes que o rio até o mar te empurre
por vales e barrancas
olmo, quero anotar na caderneta
a graça de tua rama enverdecida.
Meu coração espera
também, elevando-se à luz e à vida,
outro milagre da primavera.


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