A Rapsódia

Assim como Matilde foi a mais presente musa viva de Neruda, Graciela inspirou-me algumas palavras íntimas que, com sua concessão, dispo abaixo. Nossa versão para Eros & Psique.

Sou um expectador eterno
do ritual de tua beleza
Antes de te tocar
é o imediato te sentir
Começa porque constringe
meu peito com teus olhos
Meu coração se debate confuso,
sem saber organizar
a abstinente necessidade
de ter teu calor
O ninho do teu peito é
a casa que tanto quero
Tenho nele um quintal florido,
as pradarias infinitas
de teu largo ventre

Eu rego nossas árvores 
com o perfume
da cachoeira de teus cabelos,
a fonte de um emaranhado veludo
para deleite dos meus dedos.
E teu peito, imantado ao meu, queima
Meu rosto, meus pulsos, meus pêlos e meu sangue
seguem desordenados
o comando de tua sinuosa cintura
As labaredas negras
do fosso de meus olhos
fazem verter o óleo libidinoso
em nosso atrito
E teus lábios dançam, teus dentes punem
 

Com respaldo de teu desejo,
invado os caminhos
que teu corpo esconde
Brado meu amor por ti
em nome da seiva de paz
que tu transbordas
Inflamo meus músculos
golpeando tua maciez,
frente e verso
Em tempos líquidos, afogado,
agarro-me ao teu busto salva-vida
e tu trespassas as garras
em meus flancos, por hora rudes.
Alimento-me de tuas amêndoas,
descubro o aroma de teus ângulos fechados,
reposiciono teu equilíbrio
em nosso único centro gravitacional.
 

E assim, Graciela, meu encanto e meu amor,
te espero quando não te vejo,
te sinto quando não te toco,
te desejo quando não te sonho
e te amo por ser assim amado.