Sento, pronto para a morte.
É neste estado que escrevo,
pois de mim brotam coisas
que estou incerto se conheço
- e ao escrevê-las, partirei.
É sempre enovelado de papéis
e de algum perfume de erva
que a janela fecha e, então,
a cordoalha de luzes do sol
revela meus olhos e canetas
A tinta que parte da pena
vai até os lados do Uruguai,
desce por um rio enxuto
e banha os pés de cidreira
destes jardins arraigados.
Pelas fenestras e claridades,
alguma grama de um tapete
viçoso me molha os lábios
e eu pinto o que vejo
nestas rasuras de invernos.
Evaporado, o orvalho cinza
mistura-se à erva e ergue-se
em aromas de espirais verdes.
Então, nascem as cidreiras,
brancas e vaidosas.
Sou longitude liquefeita
em infusão de sonhos torpes,
e pelas persianas claras,
pelas letras apagadas e
pela música do tempo, me calo.
O que dizer, à luz do torpor,
na vaga sublimação de um sonho?
Contar ventas de persianas...
Folhar artigos esquecidos...
Ouvir do rádio a mesma estação.
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